sábado, 23 de fevereiro de 2013

Especial Oscar: Previsões








Com base em publicações anteriores, lógica da academia, experiência, informações da mídia, chutes e uma boa dose de copy e cola, aqui vão as previsões para a 85ª entrega do Oscar.

Durante muito tempo, Lincoln era o grande favorito de todo mundo. Muita gente tinha até esquecido de Argo. Falavam até em As Aventuras de Pi, que é um filme adorado por todos. Só que, depois de todos os grandes prêmios entregues, seria muita burrice apostar contra o filme do Ben Affleck que ganhou simplesmente tudo. Obviamente que Lincoln ainda é um forte candidato, mas não acho que consiga. Pra mim, já era hora da Academia premiar um trabalho do Tarantino e Django com certeza merece.

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Essa é a categoria mais bizarra do ano. Tudo aponta para que Steven Spielberg leve o prêmio, já que nem Ben Affleck e nem Kathryn Bigelow estão concorrendo ao prêmio. A biografia do presidente americano é um projeto antigo do diretor e talvez por isso todo o hype tenha sido criado sobre o projeto. Só que o trabalho de Spielberg não é nem de longe o melhor do ano. Das opções que sobraram, tem o sempre camarada Ang Lee (As Aventuras de Pi) ou até mesmo David O. Russell de O Lado Bom da Vida. Eu ficaria felizmente surpreso se a Academia resolvesse dar o prêmio para o diretor do filme Amor, que sem dúvida é um grande trabalho de direção, mas isso não deve acontecer. Eu votaria no Ben Affleck, mas como não existe essa opção, fico com o Ang Lee e sua capacidade de transformar uma história simples em algo tão bonito.

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Essa categoria só não é mais barbada que o prêmio de Melhor Atriz Coadjuvante. Daniel Day-Lewis recusou o papel e Spielberg teve que insistir para que o Ator interpretasse o 16º presidente americano. A insistência se mostrou acertada, Day-Lewis é o coração, pulmões, rins, figado e cérebro do filme. Merece muito sua terceira estatueta. Os outros nomes estão sendo ventilados pela imprensa, mas não acho que dê para nenhum deles este ano. Se não fosse Day-Lewis, acho que eu ficaria com Joaquin Phoenix, que está tão bem que até no poster ele parece esquisito.

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Essa categoria está meio fumaça. A aposta em Jennifer Lawrence veio depois dela ter ganho o prêmio do sindicato dos atores e o Globo de Ouro. Sua principal concorrente é Jessica Chastain, que foi indicada no ano passado e que tem feito muito filme (nos últimos 3 anos foram mais de 10). Ela já levou alguns prêmios e surge como nome forte. A Academia pode até inventar alguma surpresa e concordar comigo dando o prêmio para a atriz de 86 anos Emmanuelle Riva, por sua incrível atuação em Amor. Seria um prêmio histórico e um reconhecimento pelo trabalho e carreira da atriz. E ela ganhou o BAFTA, o Oscar Inglês, então não vem tão azarona assim.

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Tommy Lee Jones desponta como favorito pelo seu prêmio no sindicato dos atores. Na minha opinião, sua atuação em Lincoln é normal, chega a lembrar o Agente K de Homens de Preto. Quem realmente chama a atenção é Christoph Waltz, que talvez leve o prêmio, apesar de seu personagem lembrar um pouco o general de Bastardos Inglórios. A Academia pode até resolver premiar Robert De Niro, que andava sumido da cerimônia... Vai saber. Pra mim, Waltz deveria levar o prêmio, sua participação em Django é quase de protagonista e a importância de sua atuação é muito grande para o filme. Outro que pode levar o prêmio é o sempre bom Philip Seymour Hoffman.

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Esse é o prêmio mais garantido da noite. A imprensa fala no Oscar para Anne Hathaway desde que ela foi escalada para o filme. Depois que o filme saiu, provando que ela realmente merece o Oscar. No mais, ela veio ganhando tudo o que pode. Eu nem ia colocar a Sally Field como opção, mas sabe como é, a mulher tem dois prêmios em duas indicações, então não é prudente ignorar a Senhora Lincoln.

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O trabalho de Mark Boal no roteiro de A Hora Mais Escura é o mais vistoso entre os indicados. Sem falar que foi o vencedor do prêmio do Sindicato dos Roteiristas. O cara transformou fatos reais em um filme com ar documental que, por mais que eu não seja fã da construção de filmes por capítulos, merece ser reconhecido. Django e Amor são concorrente de peso, Django por ter levado o Globo de Ouro e Amor pelo reconhecimento dos críticos.

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Na acirrada disputa entre Argo, Lincoln e O Lado Bom da Vida, Argo sai na frente por ter ganho o prêmio do sindicato dos Roteiristas. O filme que não tem nem o elenco, nem o diretor reconhecido pelo Oscar (apenas Alan Arkin), deve levar os outros prêmios de maior destaque onde concorre. Então o melhor Roteiro Adaptado tem que ser dele. Lincoln é muito bem adaptado, mas é muito arrastado e O Lado Bom da Vida é um filme que se sustenta mais pelas atuações (o filme tem concorrentes em todas as quatro categorias de atuação), do que pela história.

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Talvez esse seja o prêmio "técnico" mais importante da noite. Todos os indicado na categoria concorrem ao prêmio principal e na maioria das vezes o vencedor deste prêmio também leva a categoria Melhor Filme. Então, mantendo a lógica da Academia, se eles devem premiar Argo como melhor filme, não tem outra aposta para Melhor Edição. Muito se fala sobre a montagem de A Hora Mais Escura, mas acho que vai ficar só na torcida dos adversários.

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Ao lado da categoria de Anne Hathaway, o prêmio de Melhor Filme Estrangeiro praticamente já tem um dono. Muito dificilmente um filme que concorre a quatro dos principais prêmios da noite (Filme, Diretor, Roteiro Original e Atriz), não vai levar o prêmio sobre os demais filmes. O chileno 'No' entra na lista de candidatos apenas para cumprir tabela por que esse prêmio já tem dono.

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Disputa de cachorro grande entre Detona Ralph e Valente. Ambos são desenhos de primeira linha, com grandes estúdios por trás e que já tem prêmios conquistados na temporada. Detona Ralph levou o prêmio de Melhor Animação no Annie, o Oscar das animações, e por isso sai um pouquinho na frente. Na minha opinião, já passou da hora de reconhecer o talento de Tim Burton para animações e Frankenweenie é diferente, criativo, comovente e muito divertido.

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Disputadíssima categoria. Anna Karenina, Os Miseráveis e As Aventuras de Pi disputam o prêmio cabeça por cabeça. Como nos últimos anos a Academia tem dado preferência por produções com destaque em computação gráfica (A Invenção de Hugo Cabret e Alice no País das Maravilhas foram os últimos vencedores), imagino que Pi tenha uma pequena vantagem. As Aventuras de Pi é lindo, mas não acho que esse seja o prêmio para o reconhecer o filme, acredito que em termos de Direção de Arte, Os Miseráveis tenha um destaque maior.

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Não tem como tirar esse prêmio do filme de Ang Lee. Somente a cena do tio de pi nadando na piscina em Paris, já vale um Oscar. E pensar que temos cenas como o salto da baleia, o voo dos peixes... Muito difícil de ser batido. 007 - Operação Skyfall é o único com alguma chance, graças ao esforço de Robert Deakins (o diretor de fotografia do filme), que já foi indicado 10 vezes e não levou nenhuma. Existem cenas marcantes em Skyfall, como a entrada no cassino em Macau e a luta as escuras no prédio em Shangai, iluminada apenas pelos neons da fachada do prêdio. Só que não vai dar pro James Bond nessa aqui.

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Mais uma grande disputa entre Anna Karenina e Os Miseráveis, só que dessa vez o filme de Keira Knightley deve levar. Os membros da Academia adoram um figurino espalhafatoso e nesse sentido o filme que conta a história da aristocrata russa é mais vistoso. Evidente que Os Miseráveis com seus diversos figurinos de 3 épocas diferentes corre por bem de perto.

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É difícil imaginar um cenário onde O Hobbit e seus anões não seja premiado nessa categoria. E olha que eu nem falei dos trolls e outros monstros produzidos pela equipe de maquiagem do filme. É um trabalho que traz vida aos personagens através das técnicas e é isso que a categoria se propõe. Mas, Os Miseráveis tem um outro tipo de abordagem para o termo. Ao invés de criar seres extraordinários, o trabalho em Os Miseráveis busca apresentar diversos fases dos mesmos personagens, fazendo isso muito bem. E sendo um filme mais com a cara da Academia, essa seria minha aposta.

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Na categoria mais pop da premiação, os membros da Academia fazem questão de dar o prêmio para o filme menos pop dentre os indicados. Isso já aconteceu em diversas ocasiões, como no ano passado quando A Invenção de Hugo Cabret levou sobre Planeta dos Macacos - A Origem. Por isso, muito dificilmente As Aventuras de Pi perde essa estatueta. Esse ano eu tenho que concordar com a Academia pois o filme de Ang Lee é quase que 100% feito por computação gráfica. Todas as cenas de Mar foram filmadas em uma piscina e o Tigre Richard Parker é totalmente digital, o que assusta de tão real.

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Disputa entre o veterano John Williams (46 indicações e 5 prêmios) e o novato Mychael Danna, de Lincoln e As Aventuras de Pi, respectivamente. Williams é responsável por trilhas como Tubarão e Superman, mas já tem 20 anos que ele não ganha e acho que não leva novamente. A trilha sonora de Lincoln é tão esquecível quanto o filme e a favor de Danna pesa o fato da Academia andar premiando compositores de primeira viagem.

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Tira essa da Adele, que eu quero ver. O combo a favor da canção é muito forte: 50 anos de James Bond; um dos melhores filmes do personagem; indicações ao Oscar; grande vencedora do Grammy; Filme baseado em Londres e cantora Inglesa; nenhuma canção original de James Bond ganhou o Oscar, mesmo depois de 23 filmes, sem falar que a música é boa. Tudo conspira a favor. Se não levar é mais uma prova de que a Academia é formada por velhinhos metidos a besta que vão dar o prêmio para Os Miseráveis na marra, mesmo tendo ficado claro que essa música foi feita sob encomenda para concorrer ao Oscar (um musical adaptado da Broadway, não precisava de uma canção original).

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Se As Aventuras de Pi foi inteiramente gravado numa piscina, sem um tigre ao lado e essa categoria dá o prêmio para a melhor captação ou criação de som, acho que está bem claro o motivo para a aposta, não. O filme é todo realizado a partir de sons que não foram capturados durante o set de filmagem e criar todos os efeitos sonoros para isso é um excelente trabalho de edição. No caso de A Hora Mais Escura, fica a aposta entre os outros candidatos, poderia ser Skyfall também.

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No prêmio que destaca a finalização do som de um filme, nada mais plausível que apostar num musical como o vencedor. Mesclar o áudio dos atores com a música e os efeitos deve ter sido um dos pontos de maior cuidado do filme, nada mais justo que o reconhecimento do mesmo. 007 - Operação Skyfall surge como a única zebra que pode levar o troféu pra casa.

INDICADOS
007 - Operação Skyfall; Argo; As Aventuras de Pi; Django Livre; Os Miseráveis



Não vi os filmes, não tenho como dar meu palpite, mas posso dizer o que andam falando por aí. Searching for Sugar Man desponta como o grande favorito por ser o único entre os candidatos que teve algum sucesso de bilheteria e ganhou os prêmios dos sindicatos dos Produtores, Roteiristas e Diretores. Os especialistas apontam apenas o tema como ponto fraco, já que o filme aborda um tema brando (música) enquanto os outros tem temas mais fortes. O concorrente mais forte é The Gatekeepers, que fala de uma organização poderosa em Israel.

INDICADOS
5 Broken Cameras; How To Survive a Plague; The Gatekeepers; The Invisible War; Searching For Sugar Man


Outra categoria que eu não posso opinar. Os especialistas apontam Mondays at Racine, documentário sobre o salão de cabeleireiros que abre todas as segundas-feiras do mês para receber mulheres em tratamento de câncer. O maior concorrente é Inocente, um documentário sobre uma pequena artista de 15 anos de idade.

INDICADOS
Inocente; Mondays at Racine; Kings Point; Open Heart; Redemption

Última categoria em que eu não posso opinar. Uma das categorias mais difíceis de acertar por seu caráter experimental, que aceita diversos tipos de trabalho e não costuma ter um padrão de comportamento dos votantes. Mas existe um consenso na mídia especializada que Curfew e Death of a Shadow são os candidatos mais fortes, com uma ligeira vantagem para o primeiro.

INDICADOS
Asad; Buzkashi Boys; Curfew; Death of a Shadow; Henry

A última categoria avaliada aqui, volta a ter minha preferência. Em um ano onde Disney e Fox resolveram participar, a coisa fica mais alto nível, mas por mais divertido que seja o curta da Maggie Simpson, é muito improvável que leve. A disputa deve ficar mesmo entre o adorável Paperman da Disney e o relativamente lento mas legal Adam and Dog, realizado por um ex-ilustrdor da Disney. Uma leve vantagem para o Paperman por ser mais dinâmico em captar a atenção de quem assiste. Eu gosto muito do Fresh Guacamole. É uma animação diferente e com uma realização super legal.

INDICADOS
Adam and Dog; Fresh Guacamole; Head Over Heels; Marggie Simpson in "The Longest Daycare"; Paperman



Confira o Especial Oscar com a explicação de cada categoria, a explicação do sistema de votação e todas as informações sobre os indicados ao Oscar de Melhor Filme e diga nos comentários, quais os seus palpites para a noite deste domingo!


quinta-feira, 7 de junho de 2012

Trailer: Django Unchained

Primeiro Trailer do novo filme do diretor Quentin Tarantino.

Django Unchained
Faroeste | Drama
Direção: Quentin Tarantino
Elenco: Jamie Foxx, Christoph Waltz, Leonardo DiCaprio, Samuel L. Jackson
Estreia Prevista: 18/01/2013
Sinopse:
Com a ajuda de seu mentor, o ex-escravo Django vai resgatar sua esposa das mãos de um fazendeiro do Mississipi.



Crítica: Prometheus


"Novo Alien de Ridley Scott é cancelado e se transforma em outro filme".

Era janeiro de 2011 quando li essa matéria. Depois de quase 30 anos, ver Ridley Scott envolvido num projeto de Ficção Científica tinha deixado de ser uma grande expectativa para se tornar um grande ponto de interrogação. Cancelar um projeto em andamento normalmente é resultado de desentendimento entre executivos e criativos ou revela que a ideia de voltar a uma franquia tão importante havia sido um erro. Em ambos os casos, o início da produção de Prometheus não parecia muito animador.

Muito tempo se passou até que as campanhas virais começaram a criar um clima de grandiosidade para o filme. Foi possível ver que, apesar da troca do nome, Prometheus ainda era o preludio de Alien e ficou claro que a Fox tinha 3 objetivos: (1) Produzir o preludio de Alien; (2) criar uma nova franquia baseada num universo de sucesso e (3) conquistar um novo público, que não conhece o clássico criado em 1979.

Eu tive a oportunidade de assistir o filme em 3D e, para minha surpresa, Ridley Scott usou a tecnologia para criar um clima de imersão e profundidade e não para jogar coisas na nossa cara. E ele prova isso logo nas primeiras cenas. O visual do filme é lindo, chega a impressionar. Talvez seja o melhor 3D em termos de nitidez e qualidade de imagem, desde de Avatar.

Na história, a arqueóloga Elizabeth Shaw (Noomi Rapace) e seu colega-namorado Charlie Holloway (Logan Marshall-Green) descobrem semelhanças entre representações artísticas de civilizações extintas diferentes e que nunca tiveram contato entre elas. Os signos representam um conjunto de planetas que teria condições de ter abrigado vida. Com esse "convite", a tripulação de Prometheus, liderados por uma fria Charlize Theron, parte em busca da grande resposta da humanidade: "De onde viemos?"

Ao chegar ao seu destino, os tripulantes encontram provas de que a vida na terra pode mesmo ter sido criada por alguma raça alienígena que viveu neste local. Eles encontram corpos de uma raça humanoide em meio à uma espécie de templo. Mas, a partir daí, o filme ganha um ritmo frenético e a busca pela origem se transforma em luta pela sobrevivência.

Prometheus segue uma estrutura muito parecida com o original de Scott, no entanto peca pela falta de suspense. Não há tempo para ficar apreensivo, tudo é mostrado sem cerimonia. Mesmo as cenas mais assustadoras ou agoniantes são rápidas e resolvidas de maneira quase instantânea, sem chance para os personagens serem influenciados pelos acontecimentos.

Assim como Alien, Prometheus tem personagens femininas como protagonistas. No entanto, a atuação do inspiradíssimo Michael Fassbender rouba a atenção. Michael interpreta o androide David, robô responsável pela vida dos tripulante durante os quase dois anos de sono induzido, necessários para suportar uma viagem tão longa e responsável por estudos linguísticos para tentar se comunicar com os criadores. A relação criador e criatura que vemos entre David e os tripulantes é uma espécie de contraponto entre a busca do homem pelos seus criadores.

As duas horas do filme passam muito rápido, mas infelizmente, a busca pela criação de uma nova franquia faz com que o final deixe o caminho pronto para uma continuação de forma tão grosseira que só faltou aparecer um "to be continued..." na tela. 

Prometheus é sim um preludio de Alien e mais que isso, uma homenagem. Se você gosta de Ficção Científica, vai adorar Prometheus. Se é fã de Alien, vá preparado para uma homenagem e aberto a novas verdades. Agora, se você não gosta de nada disso, prepare seu estômago e depois me diga o que achou.




segunda-feira, 4 de junho de 2012

Poster: Batman - O Cavaleiro das Trevas Ressurge





Critica: Xingu


Em 2011, o Parque do Xingu, a primeira terra indígena homologada pelo governo brasileiro, completou 50 anos. Meio século passou e o País do Futuro ainda continua lidando com grileiros, desmatamento e a paralisia da velha discussão: preservar a floresta ou abrir espaço para o crescimento econômico?

Fica a impressão de que não avançamos muito, no entendimento da questão amazônica, nesses anos que separam Transamazônica e Belo Monte. Nesse ponto, embora seja um filme didático e básico em sua defesa da cultura indígena, Xingu não deixa de ser atual.

O filme dirigido por Cao Hamburger (O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias) conta, com algumas licenças, a história da expedição pelo Rio Xingu dos irmãos Villas-Bôas, os mais importantes indigenistas do país, responsáveis pela criação do Parque. No filme, os três são dispostos como uma gradação: numa ponta, o mais velho, Orlando (Felipe Camargo), faz o papel político pragmático; na outra, o caçula Leonardo (Caio Blat) representa a entrega emocional, a evidência de que é impossível se aproximar dos índios sem transformá-los (e transformar-se).


Não por acaso, o protagonista do filme é o irmão do meio, Cláudio (João Miguel), o desbravador. É ele quem mais sente o peso das duas responsabilidades, a pública (a promessa de uma terra demarcada para os índios) e a privada (o esforço utópico de impedir a aculturação, de não se envolver). João Miguel reage bem ao peso do papel, e a sua interpretação é o forte de Xingu, um filme cuja plasticidade tenderia a esvaziar a figura dos atores.


Ao mesmo tempo, é difícil esquecer que obras recentes como Serras da Desordem, de Andrea Tonacci, e Habitante Irreal, de Paulo Scott, por exemplo, tratam de forma muito mais complexa essas questões de trocas de identidade entre o branco e o índio. Xingu só as toca transversalmente. É uma biografia meio chapa-branca que flerta com essa complexidade (nos dilemas de Cláudio), mas que termina simplificando coadjuvantes (o fazendeiro mau, o político negociador) e resgatando a velha ideia do Bom Selvagem, como se Hamburger atendesse a uma urgência de reorganizá-los do zero, como se o hoje histórico pedisse uma reintrodução à nossa história.

Mas será que pede mesmo? Ou a discussão já deveria estar em outro degrau?


Critica: Vingadores


Em contraste com o cinema focado em um ou dois personagens, o filme-coral dá a vários protagonistas aproximadamente o mesmo tempo de tela e importância dramática. Esse formato é mais comum na televisão, já que garante aos roteiristas tempo para trabalhar isoladamente cada personagem, por episódio.

Ainda que tenha pouquíssima experiência no cinema como diretor, Joss Whedon conhece muito bem como trabalhar múltiplos protagonistas nas telinhas. Em séries criadas por ele, como Buffy - A Caça-Vampiros, Angel e Firefly, Whedon explorou universos fantásticos sob o ponto-de-vista de distintos guias, mas sempre mantendo o foco em uma linha narrativa principal. Sua escolha para a primeira grande fusão de séries nos cinemas em Os Vingadores - The Avengers (2012), portanto, não poderia ter sido mais inspirada.

Com a experiência da TV, ainda que sob o tempo exíguo das produções comerciais de Hollywood, o diretor - que também trabalhou o roteiro do filme - soube como manejar as participações de cada um de seus superprotagonistas, dando a eles funções específicas dentro da trama de Os Vingadores. Junta-se a essa habilidade o fato de que Whedon é um tremendo nerd: conhece cada um dos seus jogadores e trafega com desenvoltura pelo universo dos super-heróis. São dele, por exemplo, os primeiros arcos de uma das mais empolgantes séries em quadrinhos dos mutantes da Marvel, Os Surpreendentes X-Men.

Lendo a HQ, fica fácil entender como ele conseguiu o emprego na cobiçada superprodução do Marvel Studios. Já estava tudo lá: o equilíbrio entre o tempo de cada herói, a ação desenfreada e imaginativa, a história central que mistura relações humanas e um desafio mortal, e os momentos de pura paixão nerd. Obviamente, havia a dúvida se Whedon conseguiria levar sua experiência na TV e HQs para o cinema, já que o único filme que havia dirigido até então era Serenity (2005), uma adaptação para a tela grande da série Firefly.

Felizmente, o roteirista experimentado provou-se à altura do desafio. Ainda que seja um tanto pasteurizado em termos estéticos (não diferindo de qualquer outro blockbuster de grande orçamento da última década), Os Vingadores é perfeitinho dentro de suas pretensões. É, afinal, um filmão da Marvel - e como tal, obedece a cinco décadas (!) de tradição da chamada "Casa das Ideias". Não deixa de ser, assim, uma versão modernizada da primeira aventura dos Vingadores, de 1963: nela, heróis solitários se reúnem - depois de algum desentendimento gerado pelo inevitável conflito de egos que acompanha grandes seres - para enfrentar uma ameaça comum, engendrada pelo manipulador, ganancioso e inescrupuloso vilão Loki.

Em espírito, o filme é idêntico à HQ criada por Jack Kirby e Stan Lee. Com fãs apaixonados como Whedon e o presidente da Marvel, Kevin Feige, no comando, não poderia mesmo ser diferente. É curioso notar como o Agente Coulson - personagem criado especificamente para o cinema, interpretado por Clark Gregg -, é uma maneira desses executivos/realizadores/fãs se colocarem ali, no meio da ação. Coulson, que se revela nerd, é fundamental na união dos Vingadores, assim como o foram Whedon e Feige.

Para quem, como eu, cresceu lendo essas histórias e acompanha o Universo Marvel como um casamento de décadas (nos bons, maus e péssimos momentos), portanto, ver a reunião das franquias Homem de Ferro, Thor, Capitão América e Hulk é uma vontade realizada. E vê-la BEM realizada, um deleite. Cenas específicas apelam à memória emotiva e ajudam a relevar, sem qualquer esforço, pequenos problemas, como o primeiro ato, que é bastante arrastado em comparação ao explosivo e superelaborado clímax (Michael Bay poderia aprender aqui uma lição de como concatenar personagens e focos de ação distintos em um todo coeso).

Mas mesmo nas longas sequências em que pouco acontece e a trama embola um pouco (também um tradição de Stan Lee, o mais verborrágico de todos os quadrinistas), há o que se desfrutar, como Robert Downey Jr., a cola que une o grupo, em cena nas melhores interações com o elenco, em especial o novato na série Mark Ruffalo. Os debates entre os dois cientistas (Tony Stark e Bruce Banner) e entre ele e Tom Hiddleston (fantástico como o Loki e muito mais à vontade que em Thor) são tão divertidos quanto a invasão da armada alienígena que aflige Nova York ao final.

Um filme de ação bem estruturado, que explora os pontos fortes de todo seu elenco e dá ao fã - leitor ou novato, que conheceu esse universo no cinema - exatamente o esperado, Os Vingadores - The Avengers entra desde já como mais um marco na celebrada história da Marvel. Só nos resta torcer para que demorem algumas décadas para que as famosas burradas editoriais da empresa cheguem às telas. Por enquanto, os Agentes Coulson por aí agradecem!


Critica: Sete Dias com Marilyn


Em uma das sequências de Sete Dias com Marilyn (My Week with Marilyn, 2011), Michelle Williams aparece andando pelo castelo de Windsor, na Inglaterra. No fim de sua visita ao local, ela e seu acompanhante, Colin (Eddie Redmayne), são recebidos com aplausos pelos funcionários do local. Ao perceber a comoção, ela se vira para ele e pergunta: "Devo ser ela?", para logo em seguida começar a fazer poses, dar tchauzinhos e jogar beijos. A cena é apenas um dos inúmeros exemplos que mostram bem a separação que Norma Jean fazia de sua personagem mais famosa: Marilyn Monroe. 

A protagonista que vemos no filme é tão linda e sensual, quanto insegura e volátil. E todas essas sensações, mesmo as que se referem aos atributos físicos de Marilyn só conseguem ser sentidos porque Michelle Willams está perfeita como a curvilínea atriz, que aos 30 anos estava no ápice de sua carreira e foi convidada para ir a Londres estrelar um filme dirigido e coprotagonizado com Sir Laurence Olivier (Kenneth Branagh), tão apaixonado por ela quanto qualquer outro homem que viveu nos anos 1950, para o desespero de sua esposa, Vivien Leigh (Julia Ormond). 

Esta tensão sexual causada por onde a loira californiana passava é outro ponto bastante destacado no longa. Apesar de chegar à Inglaterra ao lado de seu terceiro marido, o escritor Arthur Miller (Dougray Scott), ela seduz com extrema facilidade os homens ao seu redor. Seu sócio na Marilyn Monroe Productions, Milton Greene (Dominic Cooper), já havia passado por isso e saído com o coração despedaçado, cenário do qual ele tenta afastar o jovem Colin. Sem sucesso. Mesmo apaixonado pela jovem Lucy (Emma Watson), que trabalhava no figurino do estúdio Pinewood, Colin acaba se deixando enfeitiçar pelo enigma que era aquela mulher.

O diretor Simon Curtis e o roteirista Adrian Hodges erram ao repetir tão exaustivamente os dilemas internos enfrentados por Marilyn sem se aprofundar de verdade. Eles a mostram inúmeras vezes perdida no set de filmagem com o sistema Stanislavski de atuação - aquele que prega viver o personagem para entender seus sentimentos e assim agir como ele, em vez de apenas "fingir". Os dois não se cansam também de apontar as incontáveis horas que ela deixou seus colegas atores e a equipe técnica esperando "achar a personagem" ou em uma de suas crises de insegurança. Deixam mais do que claro também o problema com as pílulas que - na versão oficial - acabaram vitimando-a em 5 de agosto de 1962.

Mas a repetição que pega mal para os cineastas vira elogio para Michelle Williams, que em todas as cenas consegue mimetizar impecavelmente trejeitos, timbre de voz e poses de Marilyn. Ela consegue passar também o tanto que a atriz sofria com o excesso de atenção, dando a entender que ela sofria com algum distúrbio psiquiátrico como uma síndrome do pânico ou algo do tipo e tinha problemas mal resolvidos com os pais ausentes.

O filme é baseado nos livros The Prince, The Showgirl and Me e My Week with Marilyn, que relatam as memórias de Colin daqueles dias em que participou das filmagens de O Príncipe Encantado (The Prince and the Showgirl, 1957) ao lado da loira. Sete Dias com Marilyn acaba se tornando uma declaração de amor a uma mulher que era perfeita até nas suas imperfeições e continua imaculada em suas mentes mesmo depois de destroçar seus corações. Se já é assim na interpretação, imagine o estrago que a original não fazia.

Voltando ao castelo, em uma outra passagem, Marilyn e Colin passeiam pela biblioteca do local e veem um desenho de Holbein, que chama a atenção da moça pela sua beleza. Ao saber que a obra de arte já tinha 400 anos, ela diz "Espero estar bonita assim quando tiver 400 anos". Ao morrer jovem e ainda sedutora, ela chegará com facilidade aos 4 séculos ainda linda, sensual e enigmática.